segunda-feira, agosto 05, 2013

Nem touros nem guarda-chuvas


Um editor de poesia (que pensa) dá uma entrevista que merece ser lida. Coisa rara e à espera de testemunhas, aqui.

Hasier Larretxea: Seja como for, parece uma aposta arriscada nestes tempos tão complicados idealizar uma editora, ainda mais de poesia.

Aníbal Cristobo: Penso que se vemos isso como uma aposta, corremos o risco de acreditar que haverá um único número ganhador, ou de algum modo ficaríamos presos à ideia de um resultado que comprovaria se temos ou não razão em fazer o que fazemos. Vamos perder tudo e, como queria Beuys, nos alimentaremos do desperdício das nossas próprias energias. Talvez seja bom que deixemos de pensar na poesia em termos de marketing empresarial e passássemos a entendê-la como um ecossistema: o que queremos desenvolver em Kriller71 é isso, esse sentido de oferenda que propicia que um circuito seja sustentável, ao menos por um instante. Que alguém que deve quase tudo à poesia, como é o meu caso, possa tentar fazer uso de suas forças para devolver algo do que recebeu. Nesse sentido é quase anedótico que o projecto seja economicamente inviável, porque pela mesma regra de três podemos chegar à conclusão que o mais correcto para um elefante seria a imobilidade, ou que ter amigos não é uma actividade rentável, e evidentemente não se trata disso. Com isso, invertendo os termos, eu te diria que não, que oferecer algo que se faz com paixão, buscando entregar o melhor de si, nunca é arriscado. Arriscado é acreditar que podemos viver sem poesia.

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