quinta-feira, agosto 15, 2013

A planura


Pouco custa ser amável.
O corcunda hoje não saiu do seu buraco,
Enovelando esgaravata os dentes com a unha
E as pálpebras pesam-lhe
De tanto olhar a lona verde
Além uma garota diz não obrigado
E baixa os olhos,
Talvez o corcunda tenha pensado
Numa garota caminhando
Pela vereda do povoado
Até à oficina ou ao supermercado
E tenha dito prepara-se para a solidão.
Tanta tristeza, praias, guarda-sóis
Que se perdem.
Mas ser amável não é difícil.
E certamente é preferível
Aos homens estéreis os brutos
E aos audazes que perdem
A mesma garota
Sem terem sabido, sem terem escutado
O que ela podia ou não
Podia dizer.

- Roberto Bolaño
in La Universidad Desconocida, Anagrama

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