quinta-feira, julho 11, 2013

O que acontece


Entreguei-te o meu sangue, os meus sons,
as minhas mãos, a minha cabeça,
e mais, a minha solidão, a grande senhora,
como um dia de maio dulcíssimo de outono,
e mais ainda, todo o meu esquecimento
para que o destruas e perdures na noite,
na tormenta, na desgraça,
e mais ainda, dei-te a minha morte,
verei subir o teu rosto entre o marulho das sombras,
e todavia não posso cingir-te, continuas crescendo como um fogo,
e destróis-me, constróis-me, és obscura como a luz.

- Juan Gelman
(tradução de José Eduardo Simões)

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