sábado, julho 13, 2013

4.



Se me chamasses, sim,
se me chamasses!

Deixaria tudo,
tudo deitaria a perder:
os preços, os catálogos,
o azul do oceano nos mapas,
os dias e as suas noites,
os telegramas velhos
e um amor.
Tu, que não és o meu amor,
se me chamasses!

E ainda espero a tua voz:
telescópios abaixo,
desde a estrela,
por espelhos, por túneis,
pelos anos bissextos
pode vir. Não sei por onde.
Desde o prodígio, sempre.
Porque se tu me chamas
– se me chamasses, sim, se me chamasses! –
será de um milagre,
incógnito, sem que o veja.

Nunca dos lábios em que te beijo,
nunca
da voz que diz: "Não te vás."

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

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