domingo, junho 16, 2013


Boca de fonte, ó Dadivosa, ó boca
de puro idioma unido, inesgotável,
mais não mostras, no fluido rosto de água,
que máscara de mármore. Mas, na sombra,

os aquedutos marcham. Desde longe,
passando por sepulcros, no Apenino,
trazem tuas palavras. Tal um rio
sobre teu queixo enegrecido tombam.

Adiante, uma taça que as recolhe.
Torna-se a tua voz então perene
sobre essa taça, orelha adormecida.

Um ouvido da terra. Onde a si própria
a terra fala. Um cântaro viesse,
logo seria a fala interrompida.


- Rainer Maria Rilke
(tradução de David Mourão-Ferreira)
in Vozes da Poesia Europeia III, Colóquio Letras

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