quarta-feira, junho 05, 2013

A um olmo seco


   Ao velho olmo, fendido pelo raio,
e em sua metade apodrecido,
com as chuvas de Abril e o sol de Maio,
algumas folhas têm verdecido.
   O olmo centenário na colina
que o Douro lambe! Um musgo amarelento
a casca esbranquiçada contamina
do tronco carcomido e poeirento.
   Não será, como os álamos cantores
que guardam o caminho e a ribeira,
casa de rouxinóis madrugadores.
   Um exército de formigas em fileira
por ele trepa, e em suas entranhas
as teias pardas urdem as aranhas.
   Olmo do Douro, antes de derrubado
pelo lenhador com o seu machado,
e transformado em trave de sineira,
jugo de carro ou varal de carroça;
antes que em breve, rubro, na lareira,
ardas de alguma miserável choça,
à beira de um caminho;
antes que te arranque um torvelinho
e parta o sopro dos píncaros brancos;
antes que o rio até ao mar te arraste
por vales e barrancos,
olmo, nos meus papéis notar quisera
a graça de tua rama verdecida.
Meu coração espera
também, rumo à luz e rumo à vida,
outro milagre mais da Primavera.
                                                 
                                                  Sória, 1912
- Antonio Machado
(tradução de José Bento)
retirado daqui

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