terça-feira, maio 21, 2013

Idílio


Nos mais profundos leitos feitos de junco fresco
e de folhas de vinha pouco antes cortadas,
alegres nos deitámos. Sobre nossas cabeças
os choupos e os ulmeiros seus ramos agitavam.

De uma gruta, a dois passos, às Ninfas consagrada,
ouvia-se em murmúrios a água que escorria…
E pelo sol crestadas penavam as cigarras,
a sombra procurando nos espinhos das silvas.

Mais ao longe coaxavam ligeiramente as rãs;
pintassilgos cantavam; a rola suspirava;
as abelhas zuniam ao canto das calhandras
seu dourado zumbido sobre a fonte sagrada…

E rescendia a frutos. Sorvia-se o aroma,
em todos esses pomos, do Outono fecundo:
as maçãs e as peras empilhavam-se em montes;
e vergavam-se os ramos, carregados de abrunhos.

Abriu-se então um vinho, cuja cera datava
de quatro anos antes…
– Que sempre me sorria,
terminadas as ceifas, a Deusa das Searas,
com as mãos enfeitadas de papoulas e espigas!

Teócrito [Séc. III a.C.]
Idílios, 7, vv. 132-57
Trad. David Mourão-Ferreira
Vozes da Poesia Europeia - I
Colóquio Letras, número 163

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