terça-feira, março 19, 2013


Será dentro do tempo. Não a minha,
não a mais importante: a primeira.
Será a única vez do que foi criado.
Simplicidade de conseguir que não seja
esta a primeira e a última! Alba, fonte,
mar, colina embandeirada na primavera,
sejam necessários! Ela exige muitas
vidas e vive tantas que torna eterna
a do amante, torna-a de um tempero
amoroso, insuportavelmente certa.
O fruto mostra a sua sazão, o ramo
já avisa, tremor a tremor, sua impotência.
As estrelas não queimam ao pisá-las.
Quando de baixo são olhadas, queimam.
Outras haverá, outras vezes. Estou só
e abandonado como as igrejas
de arrabalde à sua sede de água benta.
Posso sentir, podia andar. Resta,
rajada de um beber de gaivota,
a estranha forma de criar, o belo
costume de dizer: «faça-se». Restas
tu própria, tu, exigência que alguém tem.
Simplesmente amar uma só vez.
Alcatruz dos meses, velha e nova
ignorância da metamorfose
que vai de junho a junho. Vê: não espera
nada nem ninguém em mim. Que precisas?
Nada nem ninguém para a minha existência.


- Claudio Rodríguez

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