O Artista Está Sozinho, de Frederico Pedreira
O ARTISTA ESTÁ SOZINHO,
de Frederico Pedreira
[150 exemplares, 70pp., 12€]
EDIÇÃO DO AUTOR
pedidos: edlinguamorta@gmail.com
A escrita é inóspita, mal-educada –
quer ouvir sempre a mesma música, anda
de memória em memória, recusa ou aceita com
igual indiferença. Ninho de nervos acordado
muito depois da hora – sustém-no durante algum
tempo numa mão, quer guardá-lo para si,
apanhar as frequências húmidas da música
---
Insiste nesta cegueira, procura, olhos saturados
com a poalha que se desprende das cabeças
doiradas nos subúrbios – pela noite assomam
uma a uma à janela, demoram mais um
cigarro, um copo de água, ainda não a derrota –
arrasta o ouvido por todas as portas, faz
vibrar os dentes e os punhos nas vidraças, já
todos dormem, enfurecem-no ainda mais
---
Noutros dias também procura a música,
mas impedem-no –
interrompida com frases inúteis, fazem
caretas, imitações, apontam para o seu coração,
perguntam quanto vale. Não sabe quanto vale,
mexe no bolso, indeciso. Está cheio de pedras
– nenhuma serve, ninguém a quem as atirar.
Um bolso cheio de pedras a fazer peso algures
dentro da carne
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