Na volta da esquina
um anjo invisível espera;
uma vaga névoa, um espectro pálido
dir-te-á algumas palavras do passado.
Como água de acéquia o tempo
cava em ti o seu manso trabalho
de dias e semanas,
de anos sem nome nem recordação.
Na volta da esquina
seguir-te-á esperando em vão
esse que não foste, esse que morreu
de tanto ser tu próprio o que és.
Nem a mais leve suspeita,
nem a mais leve sombra
te indica o que poderia ter sido
esse encontro. E, no entanto,
estava ali a chave
da tua ventura breve sobre a terra.
- Álvaro Mutis
(tradução de Nuno Júdice)
in Os versos do navegante, Assírio & Alvim
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