Domingo à tarde.
Os carros tomam a direcção do sol,
a paisagem das praias.
As esplanadas são ocupadas
por gente que simplesmente fica.
Bebem café,
uma tónica, uma cola, uma cerveja.
Há os que lêem semanários
e há os que preferem livros.
Mas a maioria não lê, realmente.
Porque está baixa-mar
na areia molhada joga-se à bola.
Uma rapariga corre atrás do seu cão.
Do meu quarto
sigo atentamente esta previsibilidade.
Entre a distância dos acontecimentos
e os livros espalhados ao meu redor,
fumo um cigarro na varanda.
A vizinha do prédio defronte a este
acaba de chegar, com o namorado.
Não se vêem de segunda a sábado,
vão certamente fazer amor.
Na melhor das hipóteses
atingem o orgasmo, elogiam-se mutuamente,
e ele regressa a casa
para o resto da semana.
Sigo atentamente esta previsibilidade.
- Paulo José Miranda
in A voz que nos trai, Cotovia
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