Assim o desejo. Como a alba, clara
desde o cimo e até que se detém
tocando com as suas luzes o cimento
desfaz o escuro, instantaneamente.
Depois abre ruidosos pombais
e é já mais um dia. Oh, os pombos
reféns da noite contendo
os seus altíssimos impulsos! E sempre
como o desejo, como o meu desejo.
Vê-lo surgir entre as nuvens, Vê-lo
sem tomar espaço deslumbrar-me.
Não está em mim, está no mundo, está aí em frente.
Precisa viver entre as coisas.
Ser anil nas colinas e de um verde
prematuro nos vales. Diante de tudo,
como na vagem o grão, permanece
aquecendo o seu alvor exaltado
para em breve vir a manifestá-lo
de forma mais bela e radiante. Enquanto
se mantém puro sem que uma brisa o sopre,
puro desejo cada vez mais meu,
cada vez menos vosso, até que chegue
por fim a ser meu sangue e minha tarefa,
corpóreo como o sol quando amanhece.
- Claudio Rodríguez
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