A azinheira, que segura mais um raio
de sol do que todo um mês de primavera,
não sente quão espontânea é a sua sombra,
a simplicidade do crescimento; conhece
apenas o terreno do qual brotou.
Com este vento que nos seus ramos ignora
o que não tem música, imagina
nos seus sonhos um enorme planalto.
E com que rapidez se identifica
com a paisagem, com a alma inteira
da sua frondosidade e de mim mesmo.
Alcançaria o céu não fosse pelo facto
de ser a sua condição ainda a de árvore.
Um dia alcançará. Enquanto espera escuta
o ruído dos voos das aves,
ligeiro o do pardal, o de asa plena
da abetarda, vigilante e claro.
Assim estou. Que azinheira, madeira quem sabe
até mais escura que a do carvalho,
eleva a minha alegria, tão intensa
momentos antes do crepúsculo
e tão mortiça agora. Como aveia
que se agita ao acaso e que não importa
se cai aqui ou ali se cai em terra,
o ardor contido dos meus pensamentos vai
filtrando-se nas coisas, entreabrindo-as,
para espalhar o seu resplendor e logo
receber uma nova claridade delas.
E está certo, pois o que saberia a azinheira
da morte senão fosse por mim? E o que seria
da sua intimidade, seu instinto, a espontaneidade
da sua sombra fiel como ninguém? Bate certo
a minha vida assim, nas suas persistentes folhas
meio que a decifrar a primavera?
- Claudio Rodríguez
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