Que voz profanaste? Como
te deste à dor destas estradas
luminosas? Um homem
bebia até tarde, fazia contas
numa máquina de manivela,
olhava a chuva forte
e não sentia. Espera a sua vez
numa cadeira, lembra-se
quando o mar foi outro
e o seu barco tombou na praia.
Por vezes pergunto se havia
essa voz do escuro, o medo
de deus, o fogão de ferro. E oiço
dizer que o corpo se prestou
à profanação, tombou em estradas,
demorou nos meses. Deixou-me
aqui a escrever mas a noite
é longa e não perdoa.
- Helder Moura Pereira
in De novo as sombras e as calmas, Contexto
Sem comentários:
Enviar um comentário