quarta-feira, janeiro 02, 2013

Estação de cura


A água me vem gorjeando
dentro do copo,
como um pássaro líquido.

Acredito que as lágrimas
que eu chorasse,
examinadas num laboratório,
já não teriam significado
nem sal.

As coisas naturais me cercam
e contam-me – analfabetas –
que são minhas irmãs.
A lua é, agora, um objeto
do meu uso pessoal.

Sinto-me tão natural
que faço sol, chovo, anoiteço.
Minha mão é de prata e água.

As moças do lugar me cumprimentam
sem me conhecer;
com isso, me comovem.

Na manhã hidromineral
as árvores chovem.


- Cassiano Ricardo
in Melhores Poemas, Global

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