terça-feira, setembro 11, 2012

O homem da casa

As chaves rondam o abismo da porta,
durante muito tempo, antes de obterem
a licença dura e seca da fechadura.

Os passos regressam a casa disfarçados, tentam
horas cada vez mais tardias, só para perceberem
que nenhuma das tábuas do vazio que pisam
foi subtraída ao seu lugar, por mais que se procure
afastar guarda-fatos, cómodas, caixas de cartão.

Alumia-se um relicário, a velha escrivaninha
onde a aprendizagem da multiplicação foi
perdendo, com os anos, a sua razão de ser.
Repetente incorrigível, senta-se nela a tua infância:
tem sido sempre melhor do que agora.

- Frederico Pedreira
in Quinteto, Artefacto

Sem comentários: