quarta-feira, setembro 12, 2012

(...)

No animatógrafo de bairro, sentado ao martírio do piano
Deixa que o coro dos peregrinos
Lamente a morte da virgem –

Gramofones
Pianolas
Órgãos
Espalham a música de Orfeu

Na Torre Eiffel
A 11 de Setembro
Dá um concerto para telefonia

Orfeu torna-se um génio:
Viaja de país para país
Sempre em carruagem-cama

A sua assinatura
Em facsimile para álbuns de poesia
Custa vinte marcos

E de Atenas viaja para Berlim
Através da aurora alemã
Lá está à espera na estação da Silésia
Eurídice! Eurídice!
Lá está a amada da saudade
Com o seu velho chapéu de chuva
E luvas amarrotadas
Tule sobre o chapéu de inverno
E batôn a mais nos lábios
Como outrora
Sem música
Pobre de alma
Eurídice: a humanidade não libertada!

E Orfeu volta-se para trás
Volta-se para trás – e já quer abraçá-la
Libertá-la definitivamente do seu Orco:
Estende a mão
Levanta a voz
Em vão! A multidão já não o ouve
Regressa ao submundo ao quotidiano e à dor!
Orfeu só na sala de espera
Estoira o coração com uma bala.

- Iwan Goll
(tradução de João Barrento)
in Expressionismo Alemão (Antologia Poética), Ática

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