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Vinde... Vem... É preciso finalmente sucumbir. Que as trevas surjam. Que a palavra ceda enfim aos simples sussurros. Não temos já nem nome nem rosto nem olhar. Aparência e espírito desvanecem-se... É que agora não há mais distância entre nós, e o que não é substância do desejo e presença premente não mais existe. Esqueci o teu rosto, e todos os caminhos da tua forma me são suavemente familiares. Não encontramos senão vida para agarrar, o momento já não distingue os nossos corpos, pessoas e passado foram apagados. A carícia forma a forma e segue a forma que cria, e desperta-a e acalma-a, prende-se à superfície da vida que envolve com passagens de cambiantes sucessivamente ternos, vagos, precisos, imperiosos. O ser e o ser já não são senão forças na sombra. Há mãos, membros, massas, forças que se tacteiam, se compõem, convêm tacitamente, que se interrogam e respondem, como num colóquio da alma consigo mesma, emternuras e impulsos, por inefáveis similitudes que se adivinham, por contrastes que se animam e se dissolvem, e tudo isto se confunde no sentimento extraordinário das energias que nascem e renascem e se excedem na aproximação e no contacto do único com o único, na partilha e na troca, no encalço do íntimo no íntimo, até à perfeição tão vizinha da unidade que é preciso uma espécie de morte pelo trovão para desatar este drama e restituir ao mundo este enlace.- Paul Valéry
(tradução de Cristina Robalo Cordeiro)
in alfabeto, Imprensa da Universidade de Coimbra
segunda-feira, agosto 27, 2012
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poesia de fora
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