Os muros da pátria onde vivia,
sendo antes fortes, já desmoronados,
da corrida do tempo vi, cansados,
por quem se arruína a sua valentia.
Saí ao campo: vi que o sol bebia
os regatos do gelo desatados,
e do monte lamentosos os gados,
que com sombras furtou a luz ao dia.
Entrei em casa; vi que, profanada,
da antiga habitação era despojos;
meu cajado, mais curvo e menos forte;
vencida pelo tempo a minha espada.
Não achei cousa onde pousar os olhos
que não fosse lembrança só da morte.
- Francisco Quevedo
(tradução de José Bento)
in Antologia Poética, Assírio & Alvim
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