desta central,
pelo microfone do corpo,
por esse fio que vem do fundo
eu me irradio:
assim, numa transmissão de
sustos e rangidos,
veia e voz, ao vivo, sob tanto
sangue: pantera escarlate
que passa e pisa
e se espatifa nesse chão:
pata de lacre,
grito, pingo sobre o alvo
tão tátil da minha carne,
nos panos
repentinos do meu espanto,
nas janelas
onde me debruço sucessivo
e vário, sequência de mim,
em fotonovelas
me desdobro — quadro por quadro,
nos desenhos
de dentro do que sou e projeto,
aos poucos — plano e pausa —
para fora
com a vida que me veste
pelo avesso:
— filmes de sêmen onde publico
figuras de suor e celulóide,
numa lâmina
de velocidade e de lembrança,
em fotogramas
de esperas e procuras — falha,
folha de slides-células, sopro
e pulso,
página de pele em que escrevo
o uso,
a articulada letra do meu gesto,
o rascunho de unhas & rasuras
feito à unha
nas nuas marcas do meu corpo
no espaço
e nos lençóis da claridade,
monograma, silhueta, cadência,
e a fala
que se imprime nesta fita,
neste sulco:
— a linguagem como um fim,
— a linguagem por um fio,
e a morte em morse.
- Armando Freitas Filho
in Antologia da Novíssima Poesia Brasileira, Livros Horizonte
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