Não sei o quê, foi o vento,
O vento me dispersou.
Viajei por terras estranhas
Entre flôres espantosas,
Tive coragem para tudo
No outro lado da cidade,
Sem tomar cuidado em mim.
Passeava com tais perícias,
Punha girafas na esquina,
Quantos milagres na viagem,
Meu coração de ninguém!
E pude estar sem perigo
Por entre aconchegos pagos,
Em que o carinho mais velho
Inda guardava agressão.
Busquei São Paulo no mapa,
Mas tudo, com cara nova,
Duma tristeza de viagem,
Tirava fotografia...
E o meu cigarro na tarde
Brilhava só, que nem Deus.
Fiquei tão pobre, tão triste
Que até meu olhar fechou.
No outra lado da cidade
O vento me dispersou.
- Mário de Andrade
in Antologia da Moderna Poesia Brasileira, Orfeu
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