Eis o fogo em todos seus vícios:
eis a ópera, o ódio, o energúmeno,
a voz rouca de fera em cio.
E contagioso, como outrora
foi, e hoje, não é mais, o inferno:
ele se catapulta, exporta,
em brulotes de curso aéreo,
em petardos que se disparam
sem pontaria, intransitivos;
mas que queimada a palha dormem,
bêbados, curtindo seu litro.
(O inferno foi fogo de vista,
ou de palha, queimou as saias:
deixou nua a perna da cana,
despiu-a, mas sem deflorá-la.)
- João Cabral de Melo Neto
in Antologia da Poesia Brasileira Contemporânea, Imprensa Nacional
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