sábado, fevereiro 18, 2012

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Minha arte de magia num mundo sem magia
é a perigosa arte nostálgica da origem
Perigosa é a canção das sereias
como noutros tempos
Noutros tempos havia enviados
loucos e reis
Sonhava-se muito
Eles habitavam o imensurável
e viviam no não ser
Não se pronunciavam os seus nomes
mas a sua força trazia felicidade
a todos os seres e ninguém fazia alarde disso

*

Uma ferida mortal nasce
da ruptura entre a imaginação e a realidade
Como genial artista ostento
um rasgo patológico
um amigo diz que sou um charco com uma flor de lótus no centro
e outro um papagaio de Hokusai e que não passo de carne de rã
Querem-me e não me querem
reconhecem-me em parte
e olham-me desconfiados
dizendo que sou metade luz metade sombra

*

O elixir das minhas bebedeiras poéticas
é a ânsia que provém do fundo mais íntimo
e ardo no desejo de me ver idolatrado
como o monge Medardo de Hoffmann
e assim me ponho a pregar a todos
e acham-me difícil e temem-me
porque anuncio grandes verdades
com exaltação e cólera

*

Fujo do aplauso miserável
do desprezível culto das multidões
que só pensam em coisas mundanas
Os homens vulgares e medíocres
que me tomam por louco
abandono o mundo dos néscios renascido
porque me livrei do encanto dessa farsa

- Carlos Edmundo de Ory
in Metanoia, Visor

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