terça-feira, janeiro 31, 2012

Victória

Escuto o vento com o rádio ligado.
Oiço uma mulher ainda jovem que se queixa
de uma avaria eléctrica: ficou
sem electrodomésticos. Como faz séculos, diz.
Como faz séculos.
É pouco o que sei do meu lugar de origem,
é pouco o que sei do mar brutal
onde os pescadores da fome levantavam
com ganchos os atuns de um mar ensanguentado
para que uma mulher ainda jovem mas dura,
que mais tarde foi minha mãe, se tornasse professora.

Oiço o vento golpear a terra seca.
O que nos espera. Moscas. Como faz séculos.

- Joan Margarit
in Misteriosamente feliz, Visor

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