quinta-feira, dezembro 08, 2011

Panic attack

De súbito a estranheza cicatriza em cada
objecto, esmalta-os de treva
e o ar da tua habitação é povoado
pela cinza azul desse olhar

que te lança do espelho um intruso.
Pede-te que o soltes. Não o abras.
As palavras formam no teu cérebro
um pelotão de fuzilamento. São já velhas

todas as tuas recordações como números
de empresas falidas há muito.
Fechas os olhos, tremes: um barco

abandonado a um mar calcinado
pelo esquecimento. Um terror lento encharca-te
o peito e o futuro apodrece no passado.

- Juan Bonilla
in El belvedere, Pre-Textos

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