Nem tudo é épico e oitava-rima
pois muita coisa desabada
tem seu sorriso cotidiano
e uns dorsos suados, pés humanos,
dois utensílios: João e Joana
com seus pequenos firmamentos
entre corujas e cumeeiras.
Ruas e ruas com as esquinas
e com os prostíbulos disfarçados
e essa mulata ausente ali,
com seu sorriso maternal
que uns homens míopes não percebem,
indo ao nível desses táxis,
bondes repletos de marítimos
que vêm de barcos gusanados,
atrás dos barcos, - limpas aves,
mais adiante os negros cais,
e contra os cais será que há mar?
Será que há mar para um herói
olhar o céu à flor das águas?
(...)
- Jorge de Lima
in Invenção de Orfeu (Canto V)
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