sexta-feira, dezembro 30, 2011

Eruditos no Campus

São quantos são.

Aprazíveis, pacientes, divagando
em pequenos rebanhos
pelo recinto ajardinado,
_________________olhem-nos.
Ou melhor, escutem-nos:

mugem difusas ciências,
comem folhas de Plínio
e de alface,
devoram hambúrgueres,
textos gregos,
diminutos testículos em sânscrito,
________________________e depois
fertilizam a terra
com detritos clássicos:
________________alma mater.

Arrotam-se,
um erudito dictum
perfuma o campus de sabedoria.

Se, silentes, meditam,
rápidos, indecifráveis silogismos,
iluminando um universo puro,
deixam fatigados os neurónios.

Buscam
– de olhar perdido no futuro –
resposta para os enigmas
eternos:

Que salário estarei a ganhar dentro de um ano?
Hoje é quinta-feira?
______________Quanto
ainda levará toda esta neve a derreter?

- Ángel González
in 101+19=120 poemas, Visor

[Com a tradução deste poema celebramos, neste fim de ano, o inestimável contributo daqueles que, descalçando-se na Academia, não resistem a chutar as sandálias (cheirosas, diga-se) para o espaço da Poesia.]

Sem comentários: