sábado, novembro 26, 2011

Epílogo

Essas veneráveis estruturas, o enredo e a rima,
por que me são inúteis agora
que quero fazer
uma coisa imaginada, e não recordada?
Ouço o ruído da minha própria voz:
A visão do pintor não é uma lente,
treme ao acariciar a luz.
Mas às vezes tudo o que escrevo
com a arte gasta dos meus olhos
parece um instantâneo
chocante, apressado, berrante, estreito,
elevado face à vida
mas paralisado pelos factos.
Tudo é desconforme.
Mas porque não dizer o que aconteceu?
Pede a graça da exactidão
que Vermeer deu à iluminação do sol
espraiado como uma maré num mapa
sobre a sua rapariga concreta e ansiosa.
Somos pobres factos passageiros
e isso avisa-nos para que demos
a cada figura nas fotografias
o seu nome vivo.

- Robert Lowell
(versão de Pedro Mexia)

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