Chorai arcadas
Do violoncelo!
Camilo Pessanha
Na pauta, ora choram aziagas
arcadas de violoncelo, que nos levam
à raia do inferno e nos trazem de volta,
transidos de pavor;
ora vibram e suplicam
intensos violinos semelhantes
a insectos que pela noite fora
vão estridulando sem saber porquê.
Oh, os violentos violinos
que gemem aflitos,
rasgando a punhais de gelo
o seio da lacrimosa!
Tudo tão humano. E aspirando tanto
ao aconchego de um lugar cativo
à mão direita - de quem?
E a partitura segue salpicando angústias -
farrapos de ansiedade misturados
com farrapos de medo.
Amadeus devia ser chamado à ordem:
nenhuma música dói tanto, e nenhuma
cumpre tão severamente o seu papel
de demonstrar o avesso que há nas coisas.
- A. M. Pires Cabral
in Cobra-d'água, Cotovia
Sem comentários:
Enviar um comentário