terça-feira, dezembro 13, 2011

Mozart, Requiem

Chorai arcadas
Do violoncelo!

Camilo Pessanha

Na pauta, ora choram aziagas
arcadas de violoncelo, que nos levam
à raia do inferno e nos trazem de volta,
transidos de pavor;

ora vibram e suplicam
intensos violinos semelhantes
a insectos que pela noite fora
vão estridulando sem saber porquê.

Oh, os violentos violinos
que gemem aflitos,
rasgando a punhais de gelo
o seio da lacrimosa!

Tudo tão humano. E aspirando tanto
ao aconchego de um lugar cativo
à mão direita - de quem?

E a partitura segue salpicando angústias -
farrapos de ansiedade misturados
com farrapos de medo.

Amadeus devia ser chamado à ordem:
nenhuma música dói tanto, e nenhuma
cumpre tão severamente o seu papel
de demonstrar o avesso que há nas coisas.

- A. M. Pires Cabral
in Cobra-d'água, Cotovia


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