domingo, outubro 23, 2011

A voz quase silêncio

vai-se perdendo a voz quase silêncio
um corpo agora oco gasto frio
a morte é uma cor que foi escolhida
para encontrar a direcção do vento

o homem que foi um feto que foi um peixe
que foi o ar que foi o sangue e o gesto
atravessa o mar com círculos nos braços
possuído no seu próprio destino
na descoberta dos focos submarinos

ao nível das estrelas mais brilhantes
e no entanto desde há muito extintas
pode encontrar-se o grande amor final
pesar-se no seu som e qualidade

garganta de alcatrão fundente
vai-se perdendo a voz, quase silêncio

- Manuel de Castro
in Edoi Lelia Doura, Assírio & Alvim

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