terça-feira, outubro 04, 2011

Poesia traduzida

Com esta entrada damos início a uma rubrica que se prolongará por tempo indeterminado, apresentando listas de obras de tradução de poesia para a nossa língua, publicadas no nosso país e presentemente disponíveis nas livrarias. As listas foram e continuarão a ser por nós pedidas e hão-de surgir no blogue duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras, respeitando a ordem em que as recebemos.
Este pedido foi formulado no sentido de divulgar preferências e permitir que, de algum modo, os leitores a que conseguimos chegar, vejam a sua curiosidade estimulada por títulos que encontram muitas vezes dificuldade na sua divulgação face à rotação de tantos outros que conseguem maior destaque pela simples virtude de constituírem novidades editoriais.
Esperamos que este pequeno esforço possa servir de incentivo à descoberta de algumas obras que, seja porque estão menos difundidas seja pelo prestígio que às vezes as relega para uma leitura sempre adiada, não estão a chegar ao publico que desenvolve de forma crítica e consciente as prioridades a nível das leituras que faz.


RUI MANUEL AMARAL*


A minha escolha é baseada em dois critérios simples: livros que li; e livros que fazem parte da minha biblioteca.
A ordem é arbitrária.

- Iluminações/Uma cerveja no inferno, de Arthur Rimbaud, na versão de Mário Cesariny (Assírio & Alvim, 1989). Das Iluminações é fundamental destacar também a impressionante versão de Maria Gabriela Llansol (Relógio D'Água, 1998).

- Poemas, de Maiakóvski, na tradução já clássica de Boris Schnaiderman, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Uma edição da editora brasileira Perspectiva. Continua a faltar uma grande antologia de Maiakóvski em Portugal.

- Sete rosas mais tarde, de Paul Celan (Cotovia, 1993). Não esqueço o impacto que este livro teve em mim quando o li pela primeira vez. Um livro belo e terrível.

- Do mundo grego outro sol, antologia de poesia grega antiga, com organização e tradução de Albano Martins (Asa, 2002). Infelizmente, não tenho a antologia de Poesia Grega Arcaica, da Maria Helena da Rocha Pereira (custa 50 euros).

- Os Cantos, de Ezra Pound, na versão de José Lino Grünewald. Tenho uma das edições da brasileira Nova Fronteira (2002). Entretanto, a Assírio & Alvim publicou esta mesma tradução em 2005. De Ezra Pound é preciso também não esquecer as suas singulares versões de poesia chinesa clássica, reunidas no volume Cathay, com tradução de Gualter Cunha (Relógio D'Água, 1995).

- Osso a osso, de Vasko Popa, na tradução de Aleksandar Jovanovic (Perspectiva, 1989). Não se trata de uma grande tradução, mas adivinha-se facilmente, sob o texto, a originalidade da poesia de Popa.

- Louvada Seja (Axíon Estí), de Odysséas Elytis, na notabilíssima tradução de Manuel Resende (Assírio & Alvim, 2004). No Posfácio, Manuel Resende inclui uma nota sobre o trabalho de traduzir Elytis. Começa assim: "Tarefa temerosa, esta de traduzir Elytis, sobretudo porque o mesmo acreditava que apenas 20% dos poemas se transmitiam na tradução (e isso mesmo era para ele um obstáculo ou pelo menos um desafio à integração europeia)." Nada mais actual.

- Paisagem com grão de areia, de Wislawa Szymborska (pronuncia-se "vissuava ximborsca"), na tradução de Júlio Sousa Gomes (Relógio D'Água, 1998).

- Trabalhar Cansa, de Cesare Pavese, na tradução de Carlos Leite (Cotovia, 1997). Inclui, entre muitos outros, o inesquecível poema "Virá a morte e terá os teus olhos" (p. 351).

- livrodepoemas, de E. E Cummings (assim mesmo, com iniciais maiúsculas), na tradução de Cecília Rego Pinheiro (Assírio & Alvim, 1999).

- Cartas de aniversário, de Ted Hughes, na tradução de Manuel Dias (Assírio & Alvim, 2000). Livro impressionante com a sombra de Sylvia Plath a pairar sobre cada poema, cada verso, cada palavra. O único livro de poemas de Ted Hughes publicado em português.

- Antologia, de Henri Michaux, na tradução de Margarida Vale de Gato (Relógio D'Água, 1999). Michaux é um génio. De leitura obrigatória para quem, como eu, quer aprender a escrever.

- 90 e mais quatro poemas, de Constantin Cavafy (uso a grafia adoptada pelo tradutor), na versão de Jorge de Sena (Centelha, 1986).

- Guarda a minha fala para sempre, de Ossip Mandelstam, na tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra (Assírio & Alvim, 1996). O primeiro livro da longa e incontornável série de traduções da dupla Guerra.

- Canto de mim mesmo, de Walt Whitman, na versão de José Agostinho Baptista (Assírio & Alvim, 1992).

- Spoon River - Uma antologia, de Edgar Lee Masters, na tradução de José Miguel Silva (Relógio D'Água, 2003). Um livro a propósito do qual não quero poupar nos adjectivos: admirável, extraordinário, importante, perfeito. Dos raros livros que não empresto a ninguém.


*Nasceu no Porto, em 1973, cidade onde vive. Foi fundador e coordenador literário da revista aguasfurtadas. É co-autor do blogue Dias Felizes. O seu primeiro livro intitula-se Caravana e foi publicado pela Angelus Novus, em 2008. Doutor Avalanche é o seu segundo livro.

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