tenho de deitar-me cedo, dormir
as oito horas colectivas, ser de todos
a primeira a acordar. Há muito
que intuía estes cuidados
embora só hoje, com o amor a milhas,
os execute com minúcias delicadas.
Deixei a carne, as unhas, o vinho.
Continuo a usar o vestido da tua
mãe (os anos setenta), sobretudo agora
às portas deste Agosto carregado
sem nada para fazer a não ser procurar
no corpo, e a sós, o que me ensinaste,
a tua metodologia clara,
o teu descaramento limpo. Logo eu,
que esperava de um homem um
silêncio obsceno, tento na língua,
uma força de centauro tímido.
Acordo cedo para que a manhã
afaste os sonhos em que todos
vão morrendo: primeiro a mãe,
depois a avó, até dar cabo de todo
o agregado. Ou faço renascer certos
mortos, há muito dados por perdidos,
que vêm de noite chorar os que
deixaram – e que eu agora mato.
Sei que já não somos necessários,
basta cumprir esse sono estipulado,
pousar nos olhos a página
de um livro, a aresta de uma chávena,
a fundura de um umbigo.
[...]
(retirado daqui)
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