sexta-feira, setembro 16, 2011

Poema em Louvor do Meu Marido (Taos)

Suponho que também não tenha sido fácil viveres comigo,
com os meus melindres, altos e baixos, precisão de privacidade
orgulho feroz e choro na cama ao tentares dormir
e tu, interrompendo-me a meio de mil poemas
telefonei à companhia de seguros? quando interrompeste um poema
a meio da nossa viagem pelas montanhas do nebraska até
ao colorado, odetta cantando, todo o mundo cantando em mim
o triunfo da nossa revolução no ar
eu prestes a escrevê-lo, e tu
tu a dizeres algo sobre o carburador
de modo que tudo se esvaiu

mas mantivemo-nos juntos
como se cada um pensasse que o outro era a jangada
e ele só, à deriva, neste casebre
demasiado pequeno, as paredes caindo sobre nós numa chuva miudinha
contrariando o ar límpido, poluindo-nos as narinas
pendurámos imagens dos nossos muitos mundos:
posters da universidade de nova york, de são francisco,
pusemos os pratos japoneses, as facas chinesas,
cravámos pequenos panos festivos dos índios no adobe
tropeçámos no silêncio para dentro um do outro

errando de um sítio errado para outro
como miúdos que se esgueiram de noite para brincarem num barco
e o barco solta-se das suas amarras, e olham para as estrelas
de que nada sabem, para descobrir
onde vão

- Diane Di Prima
(tradução de Miguel Martins)

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