sábado, setembro 17, 2011

Outra mão

De uma frase que devo ter escrito e logo me esqueceu, chega-me outra mão como um mistério, traz um vestido - de senhora, é claro. Cheira-me ele primeiro, eu a ele depois, apanho algo de familiar. Quem sabe não fui eu que o despi. Ainda ontem dei comigo admirando um na montra de uma loja. Não soube explicar. E insisti comigo, não duas ou três vezes, a verdade é que me afundei naquilo. Que raio! Levei-me a um banco que deixo sempre reservado no jardim que fica depois das cinco horas da tarde, e lá eu sentei-me. Dei-me um bocado, para que olhasse em volta, me reconhecesse, depois então quis saber: O que tens? Que tenho eu? Ando estranho? É, talvez. Dói-me nuns lados, mas se lhes levo a mão não os acho, fica ali como no vazio, ou outra mão encontra a minha, aperta-a ou pousa nela. E não estou a falar da esquerda prá direita ou o inverso, não, esses pares essenciais, não, nada disso. É mesmo outra, uma outra mão, um mistério. Não direi que é a mão de uma senhora. Eu preferia, e é verdade que tem as unhas pintadas, mas pode ser uma forma de me levar ao engano. Não vou. Fico aqui bem pra lá das horas que se têm por convenientes. Deixo que fique noite, depois levo-me direitinho até casa.

- Tiago Roldão

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