1Conheces a angústia, amigo, o modo como vagarosamente se infiltra até doer nos ossos como se o frio pela janela aberta do coração vazio. Conheces essa viagem que desemboca em portos de países longínquos, cidades de pedra sob céus de fim, ruas de solidão e morte que o sol nunca visita. E mesmo ao lado, os tubos recurvos da loucura, a o labirinto transparente por onde te moves sem peso, longe, muito londe, dos pés. Quando dói demais endoidece-se, é uma forma de desviar a dor para os olhos que não nos pertencem. Como se num filme em que fossemos o lado de fora e por dentro a dor a cansar. Não sei se sabes do que falo (o mais que recebi de ti foi um silêncio em que acreditei me ouvisses). Escrevo dirigindo-me a ti. Escrevo depondo nas tuas mãos o último grão de vida que resta nesta terra triste.
4Músculos tensos, grito parado, a inquirição prossegue por entre camadas de angústica cerrada. Fura, brita, escava, alonga túneis por onde avança o corpo cercado. Por vezes tem a espessura de montanhas, muros sobre muros que não acabam. Outras abre-se inesperadamente em naves onde o eco é mais largo e o som ampliado vibra a ilusão da interminável viagem. Uma a uma, as palavras emergem da pedra informe, brilham contra o aço quente das brocas. Agarra-as com as mãos feridas, confunde-as com o tacto, mistura-as com o sangue, enquanto a tinta regista a negro o seu traçado. Há quem lhe chame poesia. Eu só lhe posso chamar combate.in Telhados de Vidro n.º15, Averno- Jorge Roque
(segundo poema retirado daqui)
quinta-feira, setembro 15, 2011
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poesia de fora
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