1
dom riso sacode o horizonte
nos cabelos esconde-se-me um rumor
fonte ébria rompe a treva os braços
cansados sobre a memória lume
disperso reflectindo atrás de si
fervor biografia natureza reescrita
a influência noites que passo mal
e o duvidoso rumo acerta o que penso
contar os ciclos uma vida tão poucas
palavras suspeitas águas muito quietas
estuário o sono a
adormecida imagem do corpo entorno
musical os pés enterrando-o na transparência
e corre esquecido
2
brusco consciente
o vento enrola devagar estranho céu
inerte uivos comungam num deserto
de barcos encalhados passos de menina corredores
quadros colecções de flores perseguindo
o movimento
3
salga o chão vestígios a ideia uma erva
brota peito lábio hálito bafeja avermelhada flor
percurso vago assobio arrastando-me preciso
de um sentido abrir uma cova fundar
quatro novas estações
4
sublime a negra chama de instantes
descrevo tudo as sombras erguem paredes sujas
quintais virados sobre prazer a doentia cor
na noite reabrem-se manhãs confins de frases
o olhar fixa-se seguro nas mãos a rosa
da insónia invenção de lábios figura do eco
sem destino na vida abriga-se a devastação
eu sonho a idade certa mulher rosto
oculto uma resposta entre as
manhãs colagem chego a mim
sempre só e ódio dor simples indiferença
de que me serve o silêncio sulca mais fundo
essências canso o universo fecho a janela
de que país que palavras emoção me lembra
que pátria a minha sombra reflexo desta
inquietação
5
pude descansar outro rumo abolidos os
astros sem guia a noite última agudíssima
velha já cega feridas mãos pedinte saciada
cada corpo moeda se deita nela eu
fico-lhe nos ouvidos tenho-a choro
escuro
6
um intervalo criança riso qualquer
paisagem sublinho vida claros sentidos
absorvendo luz sensível luz conciliadora
o amor que movimenta curso de um rio êxtase
um verso frágil cantando a tarde inteira
7
guarda-me a memória cor alguém
mesmo o olhar comum lugar da flor à
música sobreposta folhas notas caindo
no chão de um outono branco acesso
da respiração futura ventre divino
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