quarta-feira, agosto 24, 2011

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Minha mãe só, na sua velhice ensimesmada,
sem dor e sem lástima,
ferida por tua morte e por tua vida.

Isto deixaste. Sua paixão erguida,
seu zelo firme, seu labor sombrio.
Árvore de fruta a um passo da lenha,
seu curvo sonho que te ressuscita.
Isto deixaste. Deixaste-o mas não querias.

Passou o vento. E ficaram, da casa,
o poço aberto e a raiz em ruínas.
E chorar é em vão. E se bateres
às paredes de Deus, e se arrancares
o cabelo, a camisa,
ninguém te ouvirá nunca, nem te vê.
Não volta ninguém. Nada. Não regressa
o pó de ouro da vida.

- Jaime Sabines
(tradução de Vasco Graça Moura)
in Os Amorosos e outros poemas, Quetzal

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