quinta-feira, julho 07, 2011

António Franco Alexandre

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tão pouco sentimento é a emoção, que quando
do chão a levantamos se fez leve
maneira de outras águas

os camiões caminham para o norte
com serenos destroços
as maquinetas baças da invenção

será verão, os panos levantados;
terás no espelho a idade, o jeito quase
infeliz de ser homem;

o pouco amor te imita; e nunca
chegarás a saber que não existes.


*


uma ternura, só, das tuas
não-palavras, as dóceis, as
migrantes, as sem

nome sequer, ninguém, algum
calor dos dedos quando, em torno,
o surdo som se alheia,

um rio, um riso, uma memória
do lado escuro
das mãos, grato

te escondo, esqueço, na
estéril noite agriceleste,
em neve, em chama, em terra

amordaçado,
em laço, em água, em chão
de chuva destrançado,

meu pouco amor de noitarder, de som
bra pequena em muramor, murmúrio,
meu morto corpo nu, meu cegamante.

in Poemas, Assírio & Alvim

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