sexta-feira, junho 24, 2011

A musa do baile

Vestia de palco,
atrás dos montes que um foguete
bifurcava.
Com meneios de cortesã experimentada
e arejada blusa que lhe vinha
descendo os ombros
instigava a corte embasbacada
feita de antigos cavadores.
Um holofote emendava-lhe a boca
sempre que do microfone
se abeirava.

Ao sabor do sismo do bombo
coreografava o sucesso dos emigrados,
fazia dos seios empenas,
pedia palmas, e a máquina de fumo
com redobrado silvo respondia.

Os pares do reino iam portanto
dando início à debandada.
O largo alargava, delfins aportavam
suas corsárias de alça descaída
e à bolina partiam, içando vela
à vista de outras costas
onde leve penugem se arrepiava,
pois um vento canino farejava
e dentes de chuva iam roendo
côdeas de pó.

Agosto viera morrer a casa.

Tudo ao fundo o celerado metia:
a pátria vestia de palco
mas Setembro, infantil,
a despia.

- Rui Lage
in Um Arraial Português, Ulisseia

Sem comentários: