Para a Golgona
Sim, a vida é tantas vezes
um carro alheio que nos obrigam
a conduzir. E o amor
um casaco que nos pousam
sobre os ombros, como se isso bastasse
para reanimar o coração
quando tocamos às portas
e ninguém responde.
Mas agora que já passou
o dia mais longo do ano
e a noite apaga todas as sombras
do caminho, os amigos emprestam-nos
o seu peso, puxam-nos os cabelos
e o olhar até aprendermos de cor
o código de acesso ao mundo.
Sabemos finalmente quantos somos.
Olhamos de frente o muro que deixa
entrever algum anjo cansado
de velar o sono eterno dos homens
e podemos virar as costas:
continuamos, por enquanto, do lado de fora.
Sobreviveremos à demasiada solidão,
mesmo que nenhuma outra porta
se venha a abrir para nós.
- Inês Dias
25/06/2011
Sem comentários:
Enviar um comentário