quarta-feira, junho 15, 2011

Cassino

Não gosto de prazer premeditado.
O mundo, às vezes, é um borrão escuro.
Eu, meio bêbado, estou condenado
A ver as cores de um viver obscuro.

O vento brinca e às nuvens descabela.
A âncora cai no fundo do oceano.
E inanimada, como numa tela,
A alma pende sobre o abismo insano.

Mas amo estar nas dunas do cassino,
A larga vista da janela baça,
Um fio de luz na toalha que desbota,

À minha volta o mar verde-citrino,
Vinho, como uma rosa, em minha taça
E eu a seguir o vôo da gaivota.

- Óssip Mandelstam
(tradução de Augusto de Campos)
in Poesia da Recusa, Perspectiva

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