O sol nasce em meu olho direito e põe-se em meu olho esquerdo
Na minha infância uma infância ardente como um álcool
Sentava-me nos caminhos da noite
a escutar a eloquência das estrelas
E a oratória da árvore
Agora a indiferença neva na tarde de minha alma
Abram-se em espigas as estrelas
Quebre-se a lua em mil espelhos
Torne a árvore ao ninho de sua amêndoa
Apenas quero saber porquê
Porquê
Porquê
Sou protesto e rasgo o infinito com minhas garras
E grito e gemo com miseráveis gritos oceânicos
O eco de minha voz faz ressoar o caos
Sou desmesurado cósmico
As pedras as plantas as montanhas
Saúdam-me As abelhas os ratos
Os leões e as águias
Os astros os crepúsculos as auroras
Os rios e as florestas perguntam-me
Então como tem passado?
E enquanto os astros e as ondas tiverem algo
para dizer
Será pela minha boca que falarão aos homens
Trazei-me uma hora para desfrutar a vida
Trazei-me um amor pescado pela orelha
E deixai-o aqui a morrer perante meus olhos
Que eu role pelo mundo a toda a brida
Que eu corra pelo universo a toda a estrela
Que me afunde ou me levante
Lançado sem piedade entre planetas e catástrofes
Senhor Deus se tu existes é a mim que o deves
- Vicente Huidobro
(tradução de Luis Pignateli)
in Natureza Viva, Hiena
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