domingo, abril 10, 2011

Vidas Vividas

a Bartímeo, cego

Perceber pode não servir, neste excessivo azul-luz,
no sol que continua a esburacar Fevereiro (olhos
sem olhar postos em negras andorinhas de Maio), coisas
por dizer que são caladas: um exausto meio-dia
num cenário de carnaval incerteza (está cheio
de beleza o vazio que no fundo da nossa procura
reaparece sempre) inundado pelo sol de uma graça
animal e mulher. Fico é aqui com os meus bibelôs.

As preces esperaram pelas palavras. A camisola
de lã suada, arrepios de febre, colada às costas.
E edificámos contentamentos por instinto
de conservação, o gesto e o saber viver. Morrer.
Depois reencontrarmo-nos por cima das coisas
perdidas quando os ventos não cessam, motes e esperas, no coração
da noite, um só é o vento quando nos pomos à escuta...
as cãibras, as insónias com geometrias de sombras
e luzes, mas também isto, acreditar por instinto de conservação,
também isto é
sublime e quotidiano.

- Gabriel del Sarto
(encontrado aqui)

Sem comentários: