sexta-feira, abril 01, 2011

Uma palavra

Depois de esgotar tudo à sua volta e dentro de si,
e quando estava como que a naufragar, – então lembrava-se de pronunciar
uma única palavra: estátua (e, naturalmente, pensava
em estátua grega, nua). E logo à sua volta
se abriam nomes-ilhas; um joelho brilhava
frente ao mar; a aljava do pequeno arqueiro
distinguia-se enterrada num montículo de areia fina.
Vestia-se, saía para a Ágora. "Bom dia", dizia.
Talhos, olarias, frutarias. Comprava uvas,
libertando aquele profundo, sereno e inesgotável
gesto dum braço de mármore amputado.

- Giánnis Ritsos
(tradução de Custódio Magueijo)
in Antologia, Fora do Texto

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