Retiram a louca do quarto.
Acordam a louca (de onde?)
É bela, tem olhos fixos
de quem morreu por se ver.
(Deixai-a dormir, dormir,
que eu mesma já bem dispenso
a horizontal no tamanho
deste meu corpo imprevisto).
Ela é grande e não me vê,
deixa nos linhos sem mancha
o seu repouso, tão longe,
tão longe... aqui?
Estou. Presa mudez que a louca
trouxe consigo. E penso?
Me inclino para revê-la.
O corredor – uma esquina –
eu vim de onde seguiu.
Que leito longo, que altas
estreitas paredes estas! Brancas
Piso o ladrilho. Este esquadro
na porta... (Vai ser fechada)
sobre quê?
– sobre este corpo vazado
naquela porta, seu fim
Sou eu me ouvindo? Sim, falo.
E voz, se voz, se desata
nalguma raiz de língua, para o alto.
– Garganta da que se foi
e agora está me vestindo?
Pergunto? – Não – que diria –
e não quero me dizer.
Vontade, vontade ainda, só esta
de compreender. Compreender?
– Em tanto pano estendido, os meus cansaços
dobrados. Em tanto pano, nadando
este meu pequeno corpo
não se sabe flutuando. Nem me deito.
Suspender-me? Só eu posso,
e quero estar,
à beira do leito longo, quero estar.
- Maria Ângela Alvim
in Superfície, Assírio & Alvim
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