QUAL
PAUL
VALÉRY
dorenavant, doravante,
(somente em algum caso específico
com calculado efeito retroativo)
cada poema
...onde tudo é equilíbrio
e cálculo
como na música de Stravinsky.
Valéry não é arremedo de escudo
para o acuado remoedor do ar de medo:
um poema deve ser uma festa do intelecto.
E poemas e festas e intelectos implicam riscos.
Cuidado para não escrever:
ali, onde tudo não é senão ordem e beleza,
luxo, calma e volúpia.
Mas nada de emenda
pois este paraíso-artefato
só se atinge de fato no poema.
Por que proibi-lo de ser o delírio das sensações?
Por que propor, ó fedelho, um cinto de castidade
e uma presilha para uma donzela-musa
deflorada e redeflorada cuja virgindade
só se recompõe por gosto de ser
deflorada e redeflorada mais?
Às vezes, ela clama para ser estrupada
mas não por você que fede a cueiros.
Sei, com os antigos e alguns vivos,
que a fobia castra os ritmos
e as formas da coragem.
Sá de Miranda, Camões, Cesário,
João Cabral, Augusto, Ashbery:
a resolução de ser poeta
sem precisar o peito
estufar
de vãvaronice.
E, no mais,
POESIA É O AXIAL.
- Wali Salomão
in Algaravias, Quasi
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