Para o Rui, o Manuel e o Diogo
À mesa os poetas
trocam imagens e calibram versos
como se procurassem a letra
certa para o seu mapa.
Guardam silêncios sobre folha de ouro
ou constroem pontes súbitas
entre o Amor – assim mesmo, maiúsculo –
e a infância. Salvam raparigas em flor
mas sacrificam a Primavera só
para depois poderem recolher
a beleza, ainda viva,
ainda trémula, do chão.
Ouço-os e espero o regresso a casa
para enterrar finalmente o pássaro morto
e o gato que agonizava no dia do meu aniversário.
Escolho uma música que me devolva
repetidamente todos os amigos
e torne, por isso, menos desolado este final.
E passo as mãos devagar,
com a curiosidade e avidez
que reservava antes para os tesouros
– ou os primeiros beijos – no final de cada livro,
pelas memórias que os poetas abandonaram sobre a mesa
e eu guardei ciosamente nos bolsos.
- Inês Dias
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