sorris-me com tudo
com os teus pés e as tuas mãos com o ar
com a tua boca que continua a sugar
quando dormes
com a tua origem diáfana oferta da luz
com a raiz da tua pele e perfume e tempo
com o teu choro
esse monte que escalas devagar e de cujo cimo
te atiras para o sonho como um pardal para a água
sorris-me
e então eu que te tenho esperado
como os carris esperam o comboio que lhes trará
destino e música
de súbito paralelos no seu infinito
sorrio-te
e saímos nos meus braços
dois nascidos a jogar a inventar a vida
a acariciar o gato que persegue
a bola de lã de algum mundo
dois nascidos que inventam o jogo da vida
e sorriem
enquanto passam as nuvens
e a chuva descansa de ser chuva
(Versão minha; poema incluído em Cambio de siglo - Antología de poesía española (1990-2007), selecção, prólogo e bibliografia de Domingo Sánchez-Mesa Martínez, Hiperión, Madrid, 2007, p. 98).
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