quinta-feira, março 17, 2011

IV

Enquanto escrevo, a realidade nem
se importa muito, nem pouco, nem nada:
o dia nasce após a madrugada,
a luz do Sol dissipa negra nuvem,

desperta sons que voam, dá passagem
à procissão da voz na curta estrada;
um eco branco vem da passarada,
quebra no espelho sobreposta imagem.

Este regresso foi saber que recomeço
realmente na lenda, a qual of'reço
à realidade; e, em troca, nada espero,
sim, salvante o reflexo nesse espelho,

agora, em mim, reconstituído liturgia:
dor de prazer da variante que se expraia.

- António Barahona
in O sentido da vida é só cantar, Assírio & Alvim

Sem comentários: