domingo, fevereiro 27, 2011

A torre

O meu avô materno, que teve dez filhos,
fez, para os domar, uma grande torre na horta.
Meio curral de camponês sem fechadura na porta
e meio parque de senhores com evónimos e grilos.

No meu tempo o jardim já era velho. Acolhia,
com uma confiada paciência de cão,
com saudades dos tios que já não brincavam,
todos os primos da segunda dinastia.

A casa era muito doce. Como um marmelo maduro,
com ninhos na sacada e gatos no telhado.
Cada Inverno apodrecia, bem fechada a sete chaves.

Agora que já sou grande, e sério, e duro,
revejo uns baloiços, um poço, uma estufa,
desenhados todos num azul decorado de milagre.

- Màrius Torres
(tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas)
in A cidade longínqua, Ovni

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